“Eu fotografei Portugal sobre a ditadura, vim de comboio com a mala às costas conhecer o país dos descobridores, como tinha lido num livro da minha mãe. Estava em Portugal, por coincidência, quando aconteceu a revolução e chorava a fotografar os presos políticos abraçados às famílias”.
Cerca de meia centena dessas fotos, podem ser vistas no casino fundanense. Uma delas, que é a capa do livro do fotojornalista, retrata uma menina de seis anos, com uma boneca na mão, com a imagem do bairro de barracas como pano de fundo. Essa menina, hoje mulher, descobriu a fotografia, 46 anos depois “há três anos um amigo disse-me que tinha visto a minha foto na internet e eu pesquisei, contactei o fotógrafo e a partir daí deu-se o processo que me levou a escrever o meu livro”.
O livro, que lançará dentro de um mês, conta a história de Conceição Tina, que aos 6 anos, foi a salto para França com a mãe e com o irmão ao encontro do pai “a minha mãe, uma mulher destemida e apaixonada pelo marido que já tinha partido há dois anos, pegou em mim, com 6 anos, e no meu irmão com 9, e fomos a salto para França, quando lá chegámos o meu pai, que desconhecia a nossa chegada, morava num local só para homens, tivemos que encontrar uma solução para nós vivermos, contactamos com os portugueses que moravam nesse bairro de lata em “Bidonville” e fez-se logo ali uma barraca”.
É essa barraca que se vê na fotografia do livro do fotojornalista Geral Bloncourt. A Conceição Tina, perguntamos o que sentiu quando viu a fotografia “senti vergonha, porque hoje é muito bonito olhar para a fotografia e ver uma menina com uma boneca na mão e só depois é que vemos as barracas e a lama, mas se fosse há 30 anos atrás, quando eu fui estudar para a Universidade de Coimbra e tivesse dito que tinha vivido naquelas barracas tinha sito olhada de uma maneira diferente”.
“Por uma vida Melhor” a exposição para visitar no casino fundanense, até 10 de Maio.